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Raízes

16:16

Certa vez, ouvi minha mãe dizer lá em casa: aprontem as malas, deem adeus porque nós vamos embora. Eu tinha por volta dos seis anos quando me mudei da minha terra natal para a cidade que atualmente moro. Aquela foi à primeira experiência que tive sobre mudanças, e cá entre nós, não gostei, talvez porque era uma criança e não compreendia os motivos que levavam meus pais a me separarem de tudo que amava, ou porque a cidade era horrível. Os primeiros meses foram os mais difíceis, vagamente lembro que chorava e brincava na mesma medida, quando a brincadeira cessava, as lembranças tomavam conta e eu sentia uma dor no peito pela saudade que tinha dos meus familiares. Sou a filha mais velha de um casal que teve cinco filhas, quem é mais velho a de concordar comigo que existe uma falta de alguém mais velho para compartilhar seus feitos, para assumir as responsabilidades da turma, enfim, alguém que tivesse o papel de mais velho, especialmente alguém para ser seu exemplo. Não tirando os méritos dos pais, só que irmãos tendem a passar muitos exemplos uns para os outros, até hoje vejo minhas irmãs me copiando em muitas situações. Como não tinha uma irmã(o) mais velha (o), transferi esse sentimento e falta para minha prima, e a considerava, ou melhor, considero uma das minhas melhores amigas, e por ela tenho um grande afeto e admiração. Gosto muito de recordar de nossa infância, e uma das histórias que sempre escutei ao longo dos anos foi sobre meu ciúme infantil que resultou em uma briga com a vizinha de minha prima, a sensação de perda, ou de achar que a prima seria roubada me levou a bater na menina com a sublime mensagem nos tapas: “se afastasse”, infelizmente, acabei perdendo para a menina, pois tive que voltar para a minha cidade.  Com o passar dos anos, as dores foram diminuindo, esperava ansiosamente chegar às férias que tinha da escola para viajar e passar os 15 dias em grandes aventuras na minha terra. Um pouco da infância que tive morando em minha cidade natal, foram suficientes para criar raízes eternas dentro de mim, e toda vez que me encontro lá, sinto o quanto ali me pertence, e o quanto sou feliz, especialmente pelas pessoas que ali estão, inclusive minha prima irmã.  No ultimo final de semana, passei um dos meus melhores dias do ano, voltei a minha terra natal para uma comemoração grandiosa, a formatura de minha prima irmã. Um filme passou pela minha cabeça, desde quando éramos garotinhas e agora mulheres vitoriosas, jogávamos pedrinhas em uma ponte contando os nossos segredos ali, brincávamos de cabana, de amarelinha, de elástico. Crescemos um pouco, e já não mais brincávamos... Passamos a conversar por horas sobre nosso futuro, nossos maiores desejos, e ela me ensinava a deixar de ser menos criança e ser uma adolescente, gostávamos das mesmas bandas, e fingíamos sermos cantoras. Me lembro bem de tudo, e mais um pouco crescemos e já eram outros assuntos, interesses em universidades, viagens, festas, os meninos bonitos. É, não éramos mais crianças. Além destas lembranças com minha prima, vivi as memórias de sair para casa de vovó, para ver minhas outras tias, e primas. Atualmente a casa está em obras, e por esse motivo tive tantas boas lembranças juntamente com a presença também de outra prima, um pouco mais velha que eu e minha prima irmã, e o quanto ela nos dá saudade. Ela com certeza é a que mais entende sobre distancia, raízes, e saudades, pois ela também teve que arrancar seus pés da nossa cidade natal para um lar distante,  e ambas entendemos, creio eu , que existem mudanças extremamente positivas e saudáveis, mas que geram uma falta e saudade do que tínhamos antes.  Os dois dias foram inesquecíveis, um porque comemoramos todas juntas, eu minha família a vitoria de minha prima irmã, e outro dia porque saímos somente as primas para um feedback de boas risadas e conversas, notamos o quanto mudamos, o quanto temos pra contar uma as outras, mas também notamos claramente nossas raízes, que levaremos para sempre conosco. 

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4 comentaram

  1. O que comentar depois de um texto lindo desse? Eu só consigo que te amo prima e que já ansiosa por novos momentos inesquecíveis (quem sabe até aventuras. Rsrs)!! Muita saudade já.
    (Thati)

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  2. Achei lindo foi como fazer uma viagem no tempo,acho que todos terá a mesma sensação,um sonho com certeza.

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  3. Eu tb viajei, que relato lindo Lory, por poucos minutos viajei e retornei ao Brasil com varias lembranças lindas ao ler o seu texto.

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    1. Que gratificação levar a todos viajar no tempo! Além de Leide você também sabe bem como é sobre distancia e raízes.

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