Entre tantas coisas que sou diferente de outras pessoas,
existe a peculiaridade de ser canhota. E isto desde a infância me trouxe
bastantes desafios, desde começar a andar, escrever, tentar ser bailarina,
pedalar, andar de patins, tudo era totalmente difícil, pois todos ou pelo menos
quase todos eram destros. Recordo-me de
um episodio cômico de minha infância, na tentativa de ser bailarina, fui
colocada pela professora para levar as meninas a me seguirem na rodinha,
infelizmente, como tinha foco sempre para esquerda, seguir sozinha para um lado, enquanto todas foram para a direita como era o correto da coreografia. Foi uma
verdadeira frustração, desistir de dançar, pois além de não ter o molejo, não
tinha coordenação motora e também não sabia diferenciar esquerda e direita. Seguir
rumo à tentativa de desenhar, e outra grande falha, não sabia nem desenhar um
céu direito, passei uma infância de tentativas de ser mais parecida com os
outros, entretanto isso não interferia em minha paixão de brincar, de ser uma
criança sapeca, sorridente, e feliz. Para aprender a diferença de esquerda e
direita, gravei na memoria, ‘a mão que escrevo é à esquerda’, e assim conseguir
indicar caminhos mais fáceis, ou fazer qualquer tarefa que importava
diferenciar. Anos se passaram e já na pré-adolescência fui caçoada na escola por
ser canhota e aterrorizada pela falsa história de que canhotos morrem cedo por
usarem a mão que é ligada perto do coração, diz a lenda que eles tendem a forçar mais o lado esquerdo causando sua morte. Lembro bem da cena, meu colega terminando de ouvir essas
palavras virou-se, apontou para mim e riu bem alto, depois falou: Lorenna vai
morrer cedo. Chorei como se fosse morrer a noite, felizmente quando cheguei a
casa, minha mãe me fez lembrar-se de diversas pessoas velhas que eram canhotas
que não tinham morrido e que aquela história era uma verdadeira mentira. Uma das últimas historia recente que passei
por ser canhota foi quando tentei aprender a dirigir, e não conseguir
totalmente, pois quando fui fazer a prova pratica meu pé direito falhou comigo,
esqueci que ao tirar o pé esquerdo da embreagem gradativamente o pé direito que
estava no freio tinha que sair e ir para o acelerador, pois bem, estava tudo
certo, porém ao tirar o pé do freio não o coloquei no acelerador e perdi na
prova. Apenas ouvir, está reprovada. E até hoje não quis tentar novamente. Ainda tem tantas histórias que relatadas dariam
um livro, porém findo por aqui, mas deixando claro que sou feliz independente
das dificuldades, afinal foi graças a elas que me tornei mais guerreira, ademais,
estou esperando a hora que vou descobrir minha enorme inteligência, dizem
estudos que grandes cientistas foram canhotos. Quiçá eu ainda seja uma
cientista.
Basta-me um pequeno gesto,
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.
( Cecília Meireles )
¹ MANUAL PRÁTICO DE UMA VIDA RADICAL
Manual
Manual
Digitava e apagava, pegava o papel e rabiscava, lia um
pedaço de um livro, copiava a ideia, e tudo pra ter alguma poesia no fim do
rito. Por fim, quando dava por vencida de não ter mais rimas e nem
criatividade, ficava com frases soltas e desconexas triste por não ter aquele
tão almejado dom.
Entretanto todos os dias ela continuava tentando, e tentando,
criou até um blog pra expor a meninice das palavras bobas e românticas, tolas
de uma pequena jovem a crescer. Essa história durou até alguns longos anos.
Entretanto, a menina cresceu, e não queria mais fingir que era poetiza quando
na verdade era somente telespectadora de verdadeiros poetas, com isso deixou o
papel de letrada, e passou a querer somente apreciar. Sua atitude deu um “Up”
na vida completamente, ela amadureceu e notou que aqueles anos bobinhos de
romancista era um processo comum de toda menina que passa da fase de
adolescente, jovenzinha pra finalmente virar uma grande mulher.
Foi um tempo sem ser contabilizado mudou seu
hábito, e vivenciou a vida de apreciação. Com o passar da jornada, embora ela
tivesse a convicção plena que ser poetisa não era sua vocação, e que aqueles
anos não seriam vividos novamente, sentia a necessidade de escrever.
Ela observou seus dedos, seu cantinho
empoeirado, suas canetas secas, papéis amarelados, tudo que era daquele
universo estava enferrujado. Sentiu uma palpitação, um formigamento, uma ânsia,
um desejo ao qual aflorava pela ideia de se reinventar.
Então ela prontamente viu que era chegado o
momento da limpeza, de jogar fora algumas palavras clichês, colocar novas
letrinhas simples que todos pudessem a compreender, e finalmente decidiu-se.
Hoje volto a
escrever.